sexta-feira, 23 de março de 2018

Bembé do Mercado em Santo Amaro (BA)



Na cidade de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, africanos e crioulos ousaram, em meio à repressão policial e segregação, mostrar seus batuques, cantos, danças e rituais nas ruas. Em 1889, um ano após a extinção legal da escravidão no país, nascia a tradição de celebrar o Bembé do Mercado, Festa de Preto ou Candomblé da Liberdade, registrada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (IPAC) como patrimônio cultural do Estado da Bahia.
Passados mais de 120 anos, Santo Amaro firmou-se como palco da festa conhecida como "o maior Candomblé de rua do Brasil". Na semana do Treze de Maio, que marca a comemoração da assinatura da Lei Áurea, um barracão é montado no Mercado de Santo Amaro da Purificação. A festa tem como auge o próprio 13 de maio quando uma queima de fogos no amanhecer, seguida de café da manhã, reúne representantes de muitos terreiros da região, além de moradores, visitantes e turistas.
Trata-se de uma grande celebração da cultura negra que dura três dias. Além dos rituais religiosos, acontecem apresentações de capoeira, maculelê, samba de roda, nego fugido (encenação que recria a libertação dos negros), puxada de rede e lindro amor (espécie de cortejo ou peditório para santos). As manifestações unem música e teatro num resgate à cultura dos antepassados africanos que viveram na região. “É uma data significativa porque simboliza muitas lutas juntas: a política, a religiosa, a cultural. É como se a cidade pudesse enfim cultuar seus ancestrais, os orixás", ressalta a historiadora Ana Rita Machado, da Universidade do Estado da Bahia.
Nos dias de festa, o Mercado de Santo Amaro da Purificação fica agitado. Ritos de candomblé – as cerimônias acontecem no barracão enquanto diversos rituais são realizados nos terreiros mais antigos da cidade –, capoeira, maculelê e samba de roda, entre outras expressões artísticas, são apresentados por grupos. Um dos marcos da festividade, a roda com danças para todos os orixás, o Xirê, acontece à noite. Ao som de cantigas e toques específicos para a celebração, cerca de 300 pessoas participam por noite. Palestras também reúnem moradores e turistas no espaço.
Para encerrar os festejos e trazer prosperidade, a Mãe d’Água é homenageada. Uma oferenda para a rainha do mar, Iemanjá, é levada em cortejo. O presente é preparado pelo terreiro escolhido para organizar a festa, que conta também com doações de devotos. Fiéis acompanham o trajeto em carreata até a praia de Itapema. A procissão passa em pontos representativos para os adeptos da religião. Tem comunidades de cidades como Feira de Santana, Salvador e Cachoeira. Oxum, orixá das águas de rios, também é reverenciado, assim como orixás relacionados à Iemanjá, com comidas e oferendas dedicadas a eles.


Oferenda a Exú e Intotú.
Créditos: Lázaro Menezes- IPAC A

Oferenda a rainha do mar, Iemanjá.

Por mais de 30 anos, um babalorixá, conhecido como Tidu, foi responsável por organizar a festa. Atualmente, quem escolhe quem vai liderar os rituais religiosos a cada ano são os representantes das casas religiosas da cidade. Antes da primeira semana de maio, lideranças de mais de 40 terreiros da cidade se reúnem com autoridade do poder público municipal e definem o babalorixá que será responsável pelas cerimônias religiosas e pela organização do Bembé. Apesar de mudanças anuais na produção do Bembé do Mercado, os atos religiosos envolvidos não sofrem grandes alterações.
O IPAC foi o responsável pelas pesquisas para tornar a manifestação um "Patrimônio Cultural da Bahia", produzindo livro e vídeodocumentário sobre o tema. Esta publicação é o sétimo volume da coleção Cadernos do IPAC. São 160 páginas, mais de 170 imagens entre fotografias, mapas e infográficos, além do vídeodocumentário de 52 minutos.

Textos retirados:

Para mais interesse, o link do caderno produzido pelo IPAC sobre o Bembé do mercado de Santo Amaro:

Postado por: Daiana Ramos

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