Bembé
do Mercado em Santo Amaro (BA)
Na cidade de
Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, africanos e crioulos ousaram, em meio à
repressão policial e segregação, mostrar seus batuques, cantos, danças e
rituais nas ruas. Em 1889, um ano após a extinção legal da escravidão no país,
nascia a tradição de celebrar o Bembé do Mercado, Festa de Preto ou Candomblé
da Liberdade, registrada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (IPAC)
como patrimônio cultural do Estado da Bahia.
Passados mais de
120 anos, Santo Amaro firmou-se como palco da festa conhecida como "o
maior Candomblé de rua do Brasil". Na semana do Treze de Maio, que marca a
comemoração da assinatura da Lei Áurea, um barracão é montado no Mercado de
Santo Amaro da Purificação. A festa tem como auge o próprio 13 de maio quando
uma queima de fogos no amanhecer, seguida de café da manhã, reúne
representantes de muitos terreiros da região, além de moradores, visitantes e
turistas.
Trata-se de uma
grande celebração da cultura negra que dura três dias. Além dos rituais
religiosos, acontecem apresentações de capoeira, maculelê, samba de roda, nego
fugido (encenação que recria a libertação dos negros), puxada de rede e lindro
amor (espécie de cortejo ou peditório para santos). As manifestações unem
música e teatro num resgate à cultura dos antepassados africanos que viveram na
região. “É uma data significativa porque simboliza muitas lutas juntas: a
política, a religiosa, a cultural. É como se a cidade pudesse enfim cultuar
seus ancestrais, os orixás", ressalta a historiadora Ana Rita Machado, da
Universidade do Estado da Bahia.
Nos dias de festa,
o Mercado de Santo Amaro da Purificação fica agitado. Ritos de candomblé – as
cerimônias acontecem no barracão enquanto diversos rituais são realizados nos
terreiros mais antigos da cidade –, capoeira, maculelê e samba de roda, entre
outras expressões artísticas, são apresentados por grupos. Um dos marcos da
festividade, a roda com danças para todos os orixás, o Xirê, acontece à noite.
Ao som de cantigas e toques específicos para a celebração, cerca de 300 pessoas
participam por noite. Palestras também reúnem moradores e turistas no espaço.
Para encerrar os
festejos e trazer prosperidade, a Mãe d’Água é homenageada. Uma oferenda para a
rainha do mar, Iemanjá, é levada em cortejo. O presente é preparado pelo
terreiro escolhido para organizar a festa, que conta também com doações de
devotos. Fiéis acompanham o trajeto em carreata até a praia de Itapema. A
procissão passa em pontos representativos para os adeptos da religião. Tem
comunidades de cidades como Feira de Santana, Salvador e Cachoeira. Oxum, orixá
das águas de rios, também é reverenciado, assim como orixás relacionados à
Iemanjá, com comidas e oferendas dedicadas a eles.
Oferenda a Exú e Intotú.
Créditos: Lázaro Menezes- IPAC A
Oferenda a rainha do mar, Iemanjá.
Por mais de 30
anos, um babalorixá, conhecido como Tidu, foi responsável por organizar a
festa. Atualmente, quem escolhe quem vai liderar os rituais religiosos a cada
ano são os representantes das casas religiosas da cidade. Antes da primeira
semana de maio, lideranças de mais de 40 terreiros da cidade se reúnem com
autoridade do poder público municipal e definem o babalorixá que será
responsável pelas cerimônias religiosas e pela organização do Bembé. Apesar de
mudanças anuais na produção do Bembé do Mercado, os atos religiosos envolvidos
não sofrem grandes alterações.
O IPAC foi o
responsável pelas pesquisas para tornar a manifestação um "Patrimônio
Cultural da Bahia", produzindo livro e vídeodocumentário sobre o tema.
Esta publicação é o sétimo volume da coleção Cadernos do IPAC. São 160 páginas,
mais de 170 imagens entre fotografias, mapas e infográficos, além do
vídeodocumentário de 52 minutos.
Textos
retirados:
Para mais
interesse, o link do caderno produzido pelo IPAC sobre o Bembé do mercado de
Santo Amaro:
Postado por: Daiana Ramos
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